Amarrados uns aos outros por uma rede intrincada de alianças, quase todos os países da Europa mergulharam na carnificina após aquele tiro nos Bálcãs que matou Francisco Ferdinando.
Em última análise, mais de 70 milhões de militares, incluindo 60 milhões de europeus, foram mobilizados em uma das maiores guerras da história. Mais quase 20 milhões de combatentes foram mortos, e 20 outros milhões feridos. em grande parte por causa de avanços tecnológicos que determinaram um crescimento enorme na letalidade de armas, mas sem melhorias correspondentes em proteção ou mobilidade. Considerada o primeiro conflito tecnológico da história, a 1a Guerra Mundial foi pródiga em armamentos que, até então, jamais tinham sido vistos numa frente de batalha. Tanques, aviões e submarinos, entre outras novidades letais, aterrorizavam os soldados. Primeira vez que o termo Guerra total foi seguido, onde qualquer civil e militar são considerados inimigos. Foi o conflito que teve mais baixas em batalhas únicas. A batalha de Somme teve 1,1 milhão de baixas em apenas 4 meses. Foi o sexto conflito mais mortal na história da humanidade e que posteriormente abriu caminho para várias mudanças políticas, como revoluções em muitas das nações envolvidas, e posteriormente, a Segunda Grande Guerra ou A segunda guerra mundial.
Além de mover fronteiras e deslocar populações, o cataclismo de 1914 deixou outro legado duradouro: o monstro da “guerra total”, termo cunhado em 1916 para descrever a forma de guerrear que estava surgindo. Durante o século 19, os conflitos armados seguiam – pelo menos na teoria – as boas maneiras aristocráticas. Acreditava-se que a violência devia se limitar aos campos de batalha: guerrear era arrasar exércitos e ponto final. A destruição de cidades e populações civis era vista como uma forma de barbárie. Terminado o duelo, os diplomatas podiam embainhar as espadas, apertar as mãos e brindar sem ressentimentos. Esse cavalheirismo entre rivais foi por terra em 1914. Dessa vez, as grandes potências se digladiavam com objetivos megalomaníacos e ilimitados: cada qual planejava se transformar no império mais poderoso da Terra. Para tanto, era preciso aniquilar totalmente o adversário. E não apenas seus exércitos mas também seu poderio industrial e econômico. Fábricas, plantações e cidades se tornaram alvos estratégicos. Resultado: a distinção entre civis e combatentes evaporou. A 1a Guerra Mundial não foi só um combate de exércitos mas de sociedades inteiras.
Causas:
A Revolução Industrial trouxe transformações importantes para a economia capitalista: surgiram as máquinas elétricas e os motores a combustão.
As indústrias mais importantes extraiam petróleo, fabricavam aço, máquinas e navios.
A competição capitalista estimulou o crescimento de algumas empresas; porém, levou ao fracasso muitas outras. Empresas mais fracas foram compradas ou faliram, enquanto que as grandes ficaram maiores ainda.
Os chamados monopólios (grandes empresas) passaram a controlar os grandes setores da economia. Tais empresas queriam crescer e enriquecer cada vez mais. Desejavam matérias-primas, mão-de-obra barata e mercados consumidores.
Para conseguir tudo isso as empresas (monopólios) precisavam investir capital em outros lugares do mundo e criar impérios econômicos (principalmente em países de economia mais frágil) e tudo isso com a ajuda de seus respectivos governos.
Economistas alemães e ingleses do início do século XX chamaram essa nova fase do capitalismo mundial de Imperialismo.
Os países imperialistas colonizaram vastas regiões na África e na Ásia. Podemos dizer que a Guerra foi mundial exatamente por causa do expansionismo europeu e de suas colonias que se espalhavam por todo mundo. Para se ter alguma ideia, o sol nunca se punha no Império Britânico, devido à sua extensão ao redor do mundo garantir que o Sol sempre estivesse brilhando em pelo menos um de seus numerosos territórios.
No começo do século XX, a indústria alemã estava ultrapassando a inglesa. Tanto alemães quanto ingleses não queriam competir no mercado e para acabar de vez com a concorrência, seus governos decidiram que uma guerra seria muito bem-vinda.
Porém, era preciso convencer o povo de que não havia outra saída. Para tal “serviço de convencimento”, a imprensa foi fundamental, e cada país usava os jornais para tentar destruir moralmente o outro.
Em 1871, a Alemanha se tornou um país unificado, essa unificação se completou depois que os alemães derrotaram a França na Guerra Franco-Prussiana. Como conseqüência, a França foi obrigada a entregar a região de Alsácia-Lorena, fato que levou os franceses a quererem vingança.
A Europa estava a um passo da guerra e os países disputavam novas colônias. O estopim deste conflito foi o assassinato de Francisco Ferdinando, príncipe do império austro-húngaro, durante sua visita a Saravejo (Bósnia-Herzegovina). As investigações levaram ao criminoso, um jovem integrante de um grupo Sérvio chamado mão-negra, contrário a influência da Áustria-Hungria na região dos Balcãs. O império austro-húngaro não aceitou as medidas tomadas pela Sérvia com relação ao crime e, no dia 28 de julho de 1914, declarou guerra à Servia.
Desenvolvimento:
Os países europeus começaram a fazer alianças políticas e militares desde o final do século XIX. Durante o conflito mundial estas alianças permaneceram. No começo eram só alianças de interesses econômicos, mas que com um eminente conflito, se tornariam aliados de guerra. De um lado havia a Tríplice Aliança formada em 1882 por Itália, Império Austro-Húngaro e Alemanha (a Itália passou para a outra aliança em 1915). Do outro lado a Tríplice Entente, formada em 1907, com a participação de França, Rússia e Reino Unido.
A Alemanha evoluiu rapidamente seu poder militar, e foi logo adentrando nos territórios de seu interesse e montando suas bases, no começo foi muito usada a infantaria com o apoio da cavalaria e peças móveis de artilharia. Este período ficou conhecido como Guerra de Movimento.
Guerra de Trincheiras:
Os confrontos na Europa eram divididos em três frentes: a ocidental ou franco-belga, a oriental ou russa e a meridional ou sérvia. Posteriormente, novas frentes foram surgindo com a inclusão do Império otomano, Itália e da Bulgária.
Na frente ocidental, o plano alemão era que a França fosse derrotada rapidamente por meio de uma “guerra relâmpago”. Diferentemente do século passado aonde as armas tinham munições que eram simplesmente bolas de aço, onde o soldado atirava e a bala ia pra qualquer lado, começaram a se desenvolver armas e munições mais precisas. Com esse enorme poder efetivo podendo causar grandes baixas, a única maneira de se defender era cavando buracos no chão para se proteger do fogo inimigo. Surge a Guerra de Trincheiras. Aos poucos passaram a ser utilizadas as trincheiras como estratégia de guerra, o que causou muitas baixas ao exércitos que insistiam no deslocamento de tropas. Mesmo fazendo uso de bombardeio, gases e lança-chamas, o mecanismo das trincheiras, que utilizavam metralhadoras e eram defendidas por arame farpado, causava o fracasso da infantaria.
A Guerra de Trincheiras marcou a segunda fase da Primeira Guerra Mundial. Foi a fase mais sangrenta, onde se verificava as piores condições humanas de sobrevivência em um campo de batalha. As condições de sobrevivência eram as piores possíveis. Quando os soldados cavavam as trincheiras em regiões perto do mar, acabavam encontrando água no meio do processo, o que deixava o terreno permanentemente tomado por lama. Em ocasião de chuva, a situação se intensificava, os túneis ficavam inundados e os soldados tinham que lutar, comer e dormir encharcados. A lama evitava que se mantivessem aquecidos e o cheiro de mortos era constante. Pela presença de muitos cadáveres em decomposição, apareciam muitos ratos em busca de alimentação e o quadro geral se tornava muito propício à morte.
Milhares de soldados permaneciam durante meses dentro desses túneis que eram interconectados formando uma rede de defesa dos exércitos. Apesar das trincheiras defenderem contra tiros de rifles e metralhadoras, não tinham muito sucesso contra projéteis de artilharia e ataques aéreos. O avião foi utilizado pela primeira vez como arma na Primeira Guerra. As trincheiras também presenciaram pela primeira vez a chamada Guerra Química.
Uma das táticas alemãs mais temidas durante a guerra era a utilização simultânea de dois gases: um lacrimejante, para forçar o soldado a tirar a máscara, e outro incapacitante, como o fosgênio, que sufocava as vítimas. A mais perigosa das armas químicas, no entanto, era o gás de mostarda, também conhecido como iperita. O nome vem da cor amarelada da substância. E seu efeito é devastador: produz bolhas e feridas na pele, pode levar à cegueira e causa necrose nas vias respiratórias, podendo matar por asfixia (leia mais no quadro ao lado). Os alemães foram os pioneiros no uso desse agente durante a 1ª Guerra, tanto no front ocidental quanto no oriental.
À medida que armas químicas tornavam-se comuns nas frentes de batalha, combatentes de ambos os lados foram obrigados a lançar mão de máscaras antigás e roupas protetoras. Também tiveram de se acostumar a novas rotinas, que incluíam a checagem constante dos abrigos subterrâneos, para ter certeza de que ali não havia qualquer vestígio de resíduos tóxicos. Sentinelas eram instruídas a prestar atenção o tempo todo na direção do vento. Granadas de fumaça usadas para mascarar um ataque eram freqüentemente confundidas com armas químicas, espalhando pânico entre as tropas. Ao menor sinal de uma nuvem tóxica, os combatentes soavam uma espécie de gongo, geralmente improvisado com estojos de munição. Imediatamente, todos corriam para vestir sua máscara.
Estima-se que o uso de armas químicas entre 1914 e 1918 tenha provocado cerca de 1 milhão de baixas, entre mortos e feridos.
Entre trincheiras inimigas havia um espaço de aproximadamente 200 metros de distância, a chamada Terra de Ninguém. Esse lugar era bombardeado o tempo todo e era quase impossível de passar. Nesse espaço jaziam muitos mortos ou feridos..
Com o fraco avanço dos exércitos, a guerra ficou conhecida como Guerra Estática. Ninguém conseguia penetrar no campo inimigo, fazendo a guerra ficar parada. A guerra de trincheiras só terminaria com a criação do Tanque que permitiu o avanço.
O fim da Guerra:
A entrada dos Estados Unidos na Primeira Guerra Mundial confirmou-se durante a segunda fase. Os principais motivos da entrada dos EUA no conflito foram a promessa de apoio aos países europeus que compravam mercadorias das indústrias norte-americanas (a neutralidade ficou difícil) e os ataques dos submarinos alemães à marinha mercante dos EUA. No dia 6 de abril de 1917, os norte-americanos declararam guerra à Alemanha. Outro fato importante dessa fase foi a saída da Rússia, em 1917, da Guerra, em razão da Revolução Socialista Russa. Em tal momento, a Tríplice Aliança havia ganhado dois aliados, a Bulgária e a Turquia; e a Tríplice Entente teve a adesão da Romênia, de Portugal, do Japão, da Argentina e do Brasil.
As ofensivas de 1918 se constituíram como a terceira fase da Primeira Guerra Mundial. Novas armas bélicas foram utilizadas no conflito, além do uso de tanques e aviões de caça para bombardeios e também a chegada de um grande contingente de soldados norte-americanos (aproximadamente 1,2 milhão de soldados).
A entrada dos EUA reforçou a capacidade bélica da Entente, entretanto a saída da Rússia possibilitou a invasão da Itália e da França pela Alemanha. Mas a força bélica da Tríplice Entente conseguiu vitórias fundamentais sobre a Tríplice Aliança em territórios franceses.
As linhas inimigas no front ocidental, reforçadas com a chegada de batalhões americanos resistiram as seguintes ofensivas alemãs. O Exército do Kaiser sofreu sucessivas derrotas e seus soldados começaram a desertar. Exausta depois de lutar praticamente sozinha durante 4 anos, agora a Alemanha não podia contar com os demais integrantes de sua aliança. A Bulgária já tinha jogado a toalha, o Império Austro-Húngaro não existia mais e o Império Otomano entrava em colapso. Com o sucessivo fracasso em batalhas, a Alemanha simplesmente faliu. Ninguém mais na Alemanha, principalmente os banqueiros, queriam sustentar a indústria bélica e a guerra. Eventualmente, Adolf Hitler conseguiu chegar no poder usando principalmente esse argumento, que os banqueiros e judeus traíram a pátria.
Ao perceber a derrota iminente, os generais Paul von Hindenburg e Erich Ludendorff, chefes supremos da máquina de guerra alemã, sugeriram a Guilherme que pedisse o armistício. Foi exatamente o que ele fez no dia 11 de novembro de 1918, pondo fim ao conflito. Mas os problemas, em vez de terminarem, só estavam começando: seguiu-se um período conturbado, de profunda inquietação para os alemães.
O Armistício de Compiègne, ou, na sua forma portuguesa, de Compienha, foi um tratado assinado em 11 de novembro de 1918 entre os Aliados e a Alemanha, dentro de um vagão-restaurante, na floresta de Compiègne, com o objetivo de encerrar as hostilidades na frente ocidental da Primeira Guerra Mundial. Os principais signatários foram o Marechal Ferdinand Foch, comandante-em-chefe das forças da Tríplice Entente, e Matthias Erzberger, representante alemão. Seguiu-se ao armistício o tratado de paz de Versalhes que encerrou oficialmente a Primeira Guerra. Os 27 países “vencedores” participaram da conferência.O Tratado de Versalhes colocou de lado o “Programa dos 14 Pontos” e os “vencedores” impuseram duras penalidades à Alemanha. Os termos impostos à Alemanha incluíam a perda de uma parte de seu território para um número de nações fronteiriças, de todas as colônias sobre os oceanos e sobre o continente africano, uma restrição ao tamanho do exército e uma indenização pelos prejuízos causados durante a guerra. Com tudo isso, a Alemanha perdeu muito dinheiro e mergulhou na maior crise econômica de sua história. Na Alemanha, não havia mais imperador, agora o país era uma república democrática e esse período foi chamado de “República de Weimar”. A República de Weimar também aceitou reconhecer a independência da Áustria. O ministro alemão do exterior, Hermann Müller, assinou o tratado em 28 de Junho de 1919. Na Alemanha o tratado causou choque e humilhação na população, o que contribuiu para a queda da República de Weimar em 1933 e a ascensão do Nazismo.
Conclusão:
A 1a Guerra Mundial se estendeu por 3 continentes e 4 exaustivos anos. Suas conseqüências, como previu Grey, foram duradouras: ao longo de 4 décadas, o mundo não teve paz. O conflito plantou as sementes da 2ª Guerra, enterrou para sempre a romântica autoconfiança da velha Europa e inaugurou o período dos maiores massacres da história.
Poucos eventos mudaram de forma tão radical o destino da humanidade. Para começar, a 1ª Guerra Mundial virou do avesso as fronteiras do planeta e moldou o turbulento cenário internacional no qual vivemos hoje. Grandes impérios arderam em chamas, revoluções se espalharam e novas nações surgiram das cinzas. Foi no calor desse conflito, por exemplo, que o socialismo revolucionário se tornou um fenômeno global: a Rússia dos czares foi varrida pela revolução comunista em 1917 e, alguns anos depois, surgiria a União Soviética. A Alemanha derrotada perdeu territórios na Europa e no além-mar – uma humilhação que despertaria ódios e rancores, forjando a suástica nazista dali a 20 anos.
No Leste Europeu e no Oriente Médio, os Impérios Austro-Húngaro e Otomano caíram aos pedaços, lançando num turbilhão dezenas de línguas, etnias e culturas. Dessas ruínas fumegantes surgiram países como Tchecoslováquia, Iugoslávia, Iraque, Líbano e Síria. Marcados por um parto confuso e doloroso, alguns desses Estados recém-nascidos desapareceram ao longo dos anos. E outros existem até hoje, assolados por conflitos intermináveis. As atrocidades cometidas nos Bálcãs durante a década de 1990, o brutal regime de Saddam Hussein, a guerra civil que arrasou o Líbano em 1975 e a polêmica independência de Kosovo no início de 2008 são alguns dos recentes tremores causados pelo colapso da velha ordem mundial há 90 anos. As ondas de choque desencadeadas em 1914 continuam vivas e, no início do século 21, muitas luzes permanecem acesas.